terça-feira, 8 de abril de 2008

Fumar é prejudicial ao Meio Ambiente

Eduardo Antônio Ribas Amaral (1), Paulo Sérgio Tagliari (2) e Paulo Zoldan (3)


Geralmente quando fala-se de fumo e meio ambiente lembramos da fumaça liberada pelo cigarro, quando consumido e o mal que provoca na saúde, seja do fumante, seja de quem está por perto. Também lembramos das queimadas provocadas por pontas de cigarro acesas jogadas na beira de estradas. Muitas áreas de preservação já queimaram em nosso país, em incêndios iniciados por uma ponta de cigarro jogada na vegetação seca – dados indicam que 25% das queimadas em nosso país iniciam devido a pontas de cigarro lançadas inadvertidamente na vegetação seca. Fala-se, ainda, que o filtro do cigarro demora cinco anos para se decompor. Se pensarmos nas milhões de “chepas” lançadas ao meio ambiente diariamente teremos no que pensar. Vale lembrar das chepas jogadas em nossas praias, lagos e rios, o seu efeito visual e o impacto, já comprovado na vida aquática. O ato de fumar gera lixo!

No entanto, falta-nos uma radiografia mais profunda do problema: Segundo dados da Associação de Fumicultores do Brasil/AFUBRA, em 2006 a área plantada com o fumo na Região Sul do Brasil foi de 417 mil hectares ou 4,17 bilhões de metros quadrados. Geralmente cultivado por pequenos produtores, a produção anual de fumo supera 750 mil toneladas, o que movimenta nossa economia e gera recursos financeiros para o pequeno produtor rural. Sua industrialização gera empregos e os impostos incidentes sobre o cigarro engordam o caixa do Governo. Este quadro por si só leva-nos a considerar que a produção de tabaco é sinônimo de desenvolvimento e renda para o conjunto da sociedade.

Infelizmente por trás de tudo isso há um quadro muito perverso. Se, num exercício contábil, descontássemos do dinheiro gerado com todo o ciclo produtivo do tabaco todas as despesas com tratamentos diversos tipos de câncer, enfisema pulmonar, problemas cardíacos, etc. , os dias de ausência ao trabalho, a redução da capacidade produtiva desses doentes e as aposentadorias precoces, chegaríamos a um saldo negativo para o Governo e toda a sociedade. Estudos indicam ainda que o tabagismo é responsável pelo envelhecimento precoce das nossas células. No Brasil estima-se que cerca de 200 mil mortes por ano são decorrentes do tabagismo e que mais de 35% das internações pelo Sistema Único de Saúde (SUS) são decorrentes de doenças provocadas pelo cigarro. Nosso país gasta 5% do seu Produto Interno Bruto (PIB) com os males das substâncias psicoativas. Ou seja, cerca de R$ 50 bilhões são queimados por ano, mais do que o dobro do orçamento anual do País com saúde pública estimado em R$ 22 bilhões. Cerca de 70% do valor gasto é com problemas relacionados ao uso do cigarro e do álcool. Nos Estados Unidos os gastos da saúde relacionados ao fumo são estimados em US$ 89 bilhões por ano.

Para a secagem do fumo, após sua colheita, é necessário a permanência do mesmo em estruturas de secagem, ou estufas, alimentadas com lenha. No caso específico do Brasil, o tabaco curado em estufa é o mais cultivado no país, respondendo por cerca de 70% da produção total. Segundo dados das empresas fumageiras, são consumidos 31,6 metros cúbicos de lenha para a secagem de um hectare de fumo e existem 120 mil fornos para cura do tabaco em nosso país. Se multiplicarmos o consumo de cada estufa pela área plantada no sul do Brasil veremos que são consumidos anualmente 13,2 milhões de metros cúbicos de lenha. Estima-se que 50% dos produtores são auto-suficientes na produção de lenha através do plantio principalmente de eucaliptos. A outra metade, no entanto, utiliza a mata nativa como sua principal fonte de lenha. Isto significa milhares de hectares de floresta nativa derrubada para a secagem do fumo anualmente.

Cabe lembrar que praticamente 100% dos produtores de fumo situam-se na região de domínio da Mata Atlântica, e que os remanescentes dessa formação florestal somam menos de 7% de sua área original: o ato de fumar contribui para a redução da cobertura florestal nativa. A redução da área coberta com florestas naturais resulta, ao longo do tempo, em perda da biodiversidade pela extinção de espécies vegetais e animais. Assim sendo, o fumo contribui para a extinção de diversos seres vivos. É bom lembrar que muitos medicamentos são oriundos de animais e plantas das florestas. O primeiro antibiótico, a penicilina, vem de um fungo que cresce sobre troncos mortos (hoje é sintetizada), o medicamento para combater a lepra foi descoberto a partir de estudos com o tatu; do marimbondo extrai-se medicamento para tratar doenças cardíacas e da cascavel a cola cirúrgica. sem falar das inúmeras plantas nativas que tem propriedades medicinais (guaco, espinheira-santa, pfaffia, etc).

A queima da madeira para a secagem do fumo produz fumaça que é rica em CO2 (gás carbônico). Por sua capacidade de reter a radiação infravermelha (radiação do calor) o CO2 tem sido apontado como o principal responsável pelo aquecimento do planeta. Na produção do tabaco são utilizados fertilizantes nitrogenados que acabam liberando para a atmosfera o óxido nitroso (N2O), um gás que é 310 vezes mais potente que o CO2 para reter o calor. Anualmente são produzidos milhões de toneladas de CO2 com a queima de árvores para a secagem do fumo e com o ato de fumar, além de centenas de toneladas de óxido nitroso pela adubação das lavouras de tabaco. Fumar auxilia no aumento do aquecimento global. O aquecimento do planeta acarretará sérias mudanças ambientais com enormes prejuízos para a humanidade, como a possibilidade de aumento no nível do mar, de furacões e a ocorrência de enchentes e secas ainda mais intensas.

Para a produção do fumo são utilizados uma grande quantidade de agrotóxicos: inseticidas, herbicidas, fungicidas, antibrotantes. Muitos produtores acabam seriamente intoxicados com esses venenos . Há dados demostrando que o aumento no número de suicídios no campo se devem à depressão gerada por intoxicações crônicas por agrotóxicos. Coincidentemente, muitos dos suicidas trabalham na lavoura do fumo . Diversos dados de pesquisa consideram que entre 5% e 20% do agrotóxico aplicado na agricultura acaba chegando aos rios. Milhares de quilos de agrotóxicos serão aplicados nos mais de 400 mil hectares que serão cultivados com fumo em 2007. Pelo menos cinco por cento chegará até os rios onde nos abastecemos de água para beber. O ato de fumar polui nossos rios.

Para a produção de mudas de fumo é necessário a esterilização do solo com um gás chamado brometo de metila. Após a aplicação uma significativa quantidade de gás persiste e é disperso na atmosfera onde sobe lentamente até atingir a camada de ozônio. Segundo dados da EMBRAPA Meio Ambiente , cada átomo de brometo de metila que alcança a estratosfera destrói 60 vezes mais ozônio do que os átomos de cloro dos CFCs (clorofluorcarbonos). O Ministério da Agricultura estabeleceu o prazo de 31 de dezembro de 2006 para eliminação do uso do Brometo de Metila na produção de mudas, mas sabe-se que os produtores ainda vão utilizar, e em larga escala, o produto em 2007.

Fumar destrói a camada de ozônio. A redução da camada de ozônio produz danos gravíssimos para o homem e a natureza como câncer de pele, cegueira, redução da capacidade produtiva das plantas e extinção de espécies.

Estamos comemorando a Semana do Meio Ambiente. Proteja-se e proteja o meio ambiente! Faça o possível para deixar de fumar! Procure ajudar alguém a deixar de fumar!

(1) Engenheiro Agrônomo, Mestre em Agroecossistemas pela Universidade Federal de Santa Catarina, Fiscal Federal Agropecuário do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento onde exerce a função de Coordenador da Comissão da Produção Orgânica em Santa Catarina;


(2) Engenheiro Agrônomo, Mestre em Comunicação e Desenvolvimento Rural, pela Universidade de Madison, Wisconsin-E.U.A. e Coordenador do Projeto Agroecologia da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina - EPAGRI;


(3) Mestre em Desenvolvimento Econômico pelo Instituto de Estudos Sociais, Haia-Holanda e Economista do Centro de Sócio-Economia e Planejamento Agrícola da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina - EPAGRI.

http://www.emdiacomacidadania.com.br

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